Sem Título

Meu Deus do céu, essa música lenta e vocês. E esse céu, louco. Arrebentando qualquer resto de dia. Quando eu sentir saudades, não poderei dizer sem que não me entendam. Aí sim, estarei eu e minha saudade torta no meio desses visitantes disfarçados de tantos vocês. Durmindo em nossas camas todos os dias, roçando seu gozo seco no meu casaco. Grudado há dias. O cheiro de sal impregnado na pele me deixa tonta. Ainda daquele dia que sacamos nossas roupas, juntos e nos enfiamos no mar. E tinha de tudo naquele tal de oceano. Tantas mulheres e tantos homens, distintos, diversos, querendo tudo de mim. Minha língua, minha pele, minha música. Aquilo que chamam de remeleixo e mais de mais de tudo e de nós. Chuparam meus dedos gordos até o talo. Até engasgar, só pra sair vomitando tudo depois. Lindos eles, vestidos de outras línguas, com suas bucetas pequenas e seus paus perfeitos. Hoje eu quis me abrir em tantas e falar: “vai, sô, é só entrar. acomoda ocê ali que ainda tem um espacinho”. Na esperança de conseguir mais espaços vazios, corri pras dunas, tirei toda a minha roupa e abri as pernas o máximo que pude. O vento frio se apressou e ocupou tudo, me deixando embriagada de tanta tormenta que havia aqui dentro. E desci girando pelas areias em movimento. E quando vi, me movimentava mais que elas. Rodopiava, girava e me enfiava no chão falso como se quisesse entrar ali. Inteiro, talvez com os pézinhos pra fora na tentativa de manter algum contato que seja com esse mundo de aqui. Mas eu queria engolir aquele de lá numa só tragada. Fui cavando, aos poucos, então. Conforme ia perdendo o medo, deixava o tempo fazer festa dentro de mim, geladinho ele. Gostosinho. Dá até vontade de chupar feito picolé. Saudades de nada que vi. Saudade da falta que vocês me fazem. Saudade lenta essa, tem cheirinho de amanhã. De manhã doce e fria. Tem cheiro de mar que tá lá longe. Mas ele tá tão perto, é só contar 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 e vai mais quantos?  Perto. É só abrir a porta que eu ouço ele cantarolando feliz. E eu canto junto, pra não perder a onda que já tá chegando pra me levar pra longe. Alguma coisa estalou, cê ouviu? Rompeu. Acho que foi o mar se abrindo em dois e eu me espatifando na areia dura. Abri a boca, o máximo que eu pude, e ordenei que todas de mim saissem. Mas era preciso apressar o passo, porque agora eu tinha que ficar só. Só com uma de mim. E assim, correndo, foram embora uma, duas, três, dez, mil até eu perder a conta. Fiquei murchinha e o pouco de peito que me restava, sumiu. Olhei pra mim, sem sexo e pensei: como vão poder chupar as minhas pequenas uvinhas agora? Virei de bruço e me esfreguei tanto naquela coisa seca que chamavam de areia até sangrar. Levantei, então, e fui seguindo. Sorrindo e sangrando. Tingindo de vermelho tudo que via. Como o céu ficou bonito… Quente, vermelho e viscoso. Quis aproveitar a tinta também para escrever tudo que me vinha à cabeça. Mandei mundos pro cu de judas. Te xinguei de covarde, insensato, volúvel. A tu, foi o perdão que reinou. À ela um beijo há tanto guardado. Pra você, só três bombadinha no cu. Pá tu, quanta saudade, meu amigo, que falta! Beijei as borboletas e trepei com os pássaros. Recuperando minhas uvinhas, aos poucos, ia te dizendo como te amo. Como te beijo nos meus sonhos. Como te quero bem. Fui levando meus dedos até ela e cutuquei, cutuquei até gozar. Que dia lindo, Meu Deus.


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