um recado.

Vendo o fogo assim não posso ouvir nada… Não posso pensar em nada.
Me encanta ver a madeira queimada, ver como a chama vai se aprumando entre os espaços da lareira.
E de repente, PÁ! Estoura alguma coisa ali, como se fizesse de propósito pra me acordar, me trazer de volta pra realidade.
Mas não adianta, em pouco tempo rouba toda a minha atenção de novo. E vai ficando cada vez mais vermelho mais laranja de repente mais rosado e como num piscar de olhos não tem mais chama. Tudo se queimou, acabou, virou pó.
Pó que em cima guarda uma fumaça escura, quase preta se não fosse cinza.
Mas sempre tem uma brasa ali no canto, piscando, implorando por mais galho. Por mais fogo.

– Chama eles pra mim! Diz que faz muito frio, mas que na minha sala tem fogo. E diz pra chegar rápido. Que quanto mais gente no frio, mas quente fica. E diz também que é pra ficar um tempo… Diz que estou suplicando companhia. Que não posso mais suporta a solidão. Que todo dia olhando o mar me traz alegria, mas me traz alucinação. Preciso ouvir voz… voz humana e língua. Pede a eles que me mostrem a língua na porta. E que venham só com o básico… para que seja tudo consumido aqui e voltem desnudos, despidos de qualquer desejo. Quero que matem seus desejos em baixo do meu teto. E diz que ficarei uma semana sem me limpar, pra sentir o cheiro da visita todos os dias. A casa suja de gozo por todos os lados. De cinzas. E minhas cinzas vão se misturar com a sujeira da casa logo logo. Pois vou me atirar em minha lareira. Sei que não vou suportar a solidão.


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